sexta-feira, 13 de abril de 2007

Primeiro ensaio sobre a ética

Nas minhas diárias viagens de metrô acabou sempre por ouvir conversas perdidas.

Ontem, quando subia as escadas rolantes da estação República, ouvi um diálogo, de um casal atrás de mim, um tanto o quanto interessante.

- Meu, o Valdiram tá guardando maconha pros caras na casa dele e descolando 150 pila por mês.

- Só de guardar o bagulho?

- Só.

- Imagina se eu pego um barato desse...

- Mas ai você ia acabar queimando o filme dos seus pais se desse alguma bosta.

- É... O que vira é fazer isso morando sozinho.

- É. Com a grana do trampo, mais uns 150 conto de só esconder o bagulho pros caras a gente tava tranqüilo.

- É, guardar não é vender, não é verdade?

Entendo, eu, como ética a parte da filosofia que estuda os costumes, valores e a moral. Ética é uma palavra de origem grega, vem do termo ETHOS, que significa modo de ser.

Nosso modo de ser é norteado pelos nossos valores e costumes. Costumes são hábitos, tanto individuais como coletivos. Já nossos valores são constituídos pela repetição de nossos costumes.

Ou seja, a ética tem marcas coletivas e marcas individuais. Outra marca é que a ética não é imutável, os valores vão se alterando de acordo com época, localidade, grupo e segmento social.

Por isso, seria leviano de minha parte dizer que os interlocutores desse diálogo não possuem ética, ou ferem a ética. O que eu posso dizer é que eles ferem a minha ética.

Para mim, guardar essa droga é fazer parte do sistema de venda do tráfico, é ser uma peça da maquinaria que move essa ação criminosa que é a venda de entorpecentes.

Acontece que eles não interpretam assim e mesmo que interpretem dessa forma, para eles, se não venderem, não fizeram nada de errado. É a alteração de um valor. Não vou dizer se é boa ou má, afinal, seria exprimir juízo de valor sobre um tema que não está em debate neste texto, que é a legalização de certas drogas.

O que quero caracterizar é que a moral excede as linhas das nossas normas jurídicas, já que o porte da droga também é ilegal. Acontece que há uma alteração de nossa norma moral, ou seja, uma alteração, ou um contraste da ética dentro um segmento social que engloba a nossa sociedade.

Celeuma que tenho neste momento é: Se as pessoas estão cada vez mais dispostas a aceitarem a transgressão de nossas leis como algo habitual e normal, o quão próximos estamos da desestruturação de nosso sistema de estado de direito?

Nossas instituições perdem legitimidade, a corrupção pessoal é, cada vez mais, uma esperteza e não imoralidade. Meu temor é, que nesse trânsito da moralidade para imoralidade, o caminho que mais se torna atrativo é o da amoralidade. Aquele que puder, não feche a porta quando sair de nosso caos, há muitos por passar.

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