terça-feira, 8 de abril de 2008

Leve Crônica de Aspargos

Às vezes esquecemos a vida, mas não por falta de memória, sim por aquilo que invade o peito e explode, deixando a razão e a emoção em cacos.

Você se perde, vê um mundo psicodélico e assustador, vê-se só, numa situação constrangedora, sente-se humilhado, vê que todos apontam e riem de você, vê as pessoas que ama indo embora, vê seus sonhos ruindo, vê um mundo horrível do lado de fora da janela. Tem medo, tem que se esconder embaixo do cobertor, entra em desespero, sente na pele o clamor daquilo que mais teme sorrindo defronte ao seu nariz.

Até que passa, você olha para os lados e vê; sorri e outra vez sobrevive, segue, progride como outro alguém diferente do que era antes. Mas, mesmo assim, ainda é você.

Olha para o canto e vê o gato passar, ele se espreguiça, roça a parede da poltrona, olha pros lados e finge um miado, mas não, foi apenas um leve bocejo, até o gato está cansado!

‘Eu estaria lá por você, mas eu estou muito cansado para me levantar da poltrona macia e desligar a tevê! Isto aqui está bom demais!’

Eu poderia me envolver novamente, poderia beijá-la, poderia amá-la mais do que amei todas as outras, eu poderia até morrer por você se fosse preciso, mas não, eu prefiro jogar tudo isso fora e jogar um pouco mais de play station, pegar umas bolachas no pote e engordar mais uns dois quilos.

Eu poderia ir atrás de você, mas eu prefiro me esconder aqui em casa, atrás do enfeite da mesinha ou talvez em baixo da escrivaninha, quem sabe em qualquer outro lugar da sala O que eu não posso é admitir para mim mesmo que eu gostaria é de me esconder em seus braços.

Sou um medroso, um palhaço, tenho medo de admitir a mim mesmo o sentimento! Que homem logrado! Parece mais um cão correndo atrás do rabo... E este nunca alcança, caí ao chão e não compreender por quê! Tapado!

Enganado por quem, cara pálida? Conta-me o segredo do meu temor, porque quando eu olho em seus olhos me tremem as pernas, lacrimejam os olhos, suam as mãos, o olhar se perde... Não tenho forças para olhar em seus olhos, seu perfume me desequilibra e eu sinto que não estou em lugar nenhum.

Báh! Mais uma vez apaixonado? Não, não o posso! Irei sofrer incontrolavelmente, irei olhar o sol poente e perguntar por qual motivo ele se vai e me deixará só frente a ela. Por quê? O vento sopra e levanta as folhas marrons já mortas, ele ventila as cinzas do dia, leva embora o perfume das flores diurnas, leva a tristeza de um ciclo sem o objeto de desejo e deixa o sonho daquele beijo, banhado ao pôr-do-sol de iludir-me na divagação vã. E lá se vai mais uma tarde.

Talvez o salivar da minha boca seja o sinal que o sabor do veneno já está adaptado junto aos meus aminoácidos. Talvez o fato d´eu sentir mais sede dos seus lábios que da própria água já signifique alguma coisa, mas eu não sei, sou só um qualquer jogando palavras cruzadas. Qual o nome da Primeira Deusa Grega com quatro letras?

Verdades, mentiras, todas sendo lavadas na mesma vasilha, serão separadas como feijão, mas infelizmente nossa justiça é cega, a verdade vai para o lixo, a mentira vai para panela, e depois não entendemos porque o feijão está tão ruim e por que o seu sobrinho quebrou dois dentes.

Eu gosto de olhá-la de longe. Mesmo que me sinta tentado em me aproximar, mas sei lá, é tão confortável ficar aqui admirando, depois reclamando, questionando o céu do por que d´eu nunca ter você aqui, será que você me diz?

Provavelmente não vá precisar, pois eu sei, só não consigo admitir que estou tão acomodado com o platonismo que talvez amar assim seja automático; deixar o amor escapar sem se realizar seja o que eu posso fazer para não permitir que meu sentimento ultrapasse a idealização, para não tirar de você o meu estigma de perfeição.

Ás vezes penso em você como um anjo, ás vezes penso em você como uma flor, mas descobri que faltou pensar em você como você, faltou lhe ver como ser humano, faltou eu tirá-la a perfeição e tratá-la como mulher e ao invés de adular a todas as qualidades, faltou amar seus defeitos.

Quando olho seu retrato viajo, viajo nos seus óculos escuros, viajo nos seus lábios, suaves, tentadores e sensuais, viajo tanto que quando vejo que você está presa aos meus pensamentos, você se torna uma constante, é lei irrevogável, meu álibi, meu motivo, minha distração, é aquilo que me faz viver sorrindo enquanto todos estão chorando com o final refrão.

Gosto de olhar para o pôr-do-sol. É uma pena que mal possa vê-lo com tantos prédios ao redor, perdi o horizonte, o mundo me separa do belo, o concreto, o moderno, comprou-me com o conforto e eu me vendi pela facilidade, agora corro atrás da comodidade, corro para subir sobre quem estiver vacilando abaixo.

Você poderia me dizer, eu poderia ouvir, mas estamos muito ocupados com coisas mais importantes, preferimo-nos a todo esse mundo doente, prefiro ficar perdido em seus lábios, enroscado em seus braços a discutir política ou as mazelas que haveremos de enfrentar. Visto em seus olhos há um mundo muito mais bonito, visto em seus olhos eu tenho um motivo para ficar aqui sentado por horas e horas, sentindo seu perfume, tocando sua pele, deitar ao chão, sobre tapete bege.

Ontem derrubei o pote de aspargos, vi mil desenhos se formarem ao chão. Parecia criança deitada no gramado da praça olhando as nuvens para ver com que se pareciam. Com alguns aspargos escrevi seu nome. Logo pensei quão bobo eu era. Tolo, apaixonado, um ato infeliz. O mais infantil dos homens praticava um ato nada mais que ridículo. Logo pensei, quem gostaria de ter seu nome escrito com aspargos?

A todo instante um sonho morre, a cada instante se perde uma oportunidade, a cada olhar pode-se descobrir um pouco que há de gente na gente. Mas o relógio corre, a vida acelera a maratona, seguimos no ritmo da degola, e esquecemos os aspargos no pote quando deveríamos joga-los ao chão, rasgarmos nosso pedestal e ser intensos pelo puro simples ato de cada dia estarmos vivos, ainda.

2 comentários:

Anónimo disse...

leve?....tem certeza?!
vc já disse tanto, que esgotou-me as palavras. disse tudo.^^
bjo

Anónimo disse...

não consigo fazer link do seu blog lá no meu....=/
aaaaaaaaah socorrooo! to apanhando....hehehe
bjinho



ps.: faz otra crônica bem aspargos? =)