quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Como ler?

“Qualquer jornal, da primeira linha à última, não passa de um tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez de atrocidade universal. E é com este repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a sua refeição de todas as manhãs. Tudo, neste mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o rosto do homem. Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma convulsão de asco.”


Charles Baudelaire, in "Diário Íntimo"

Todos os dias, ao abrir o jornal ou ligar a tevê e sintonizar no noticiário disponho-me a ser bombardeado pelas mais diversas notícias.

São tragédias, factóides repetitivos, o mesmo enredo com personagens e cenários diferentes.

Quantos morreram hoje? Tráfico? Bala-perdida? Estupro? Atropelamento? Acidente aéreo? Passional? Em série? Qual vai ser a pedida de hoje?

E isto passa aos nossos olhos de forma habitual, comum, sem causar espanto, reação, revolta. Estamos anestesiados, inertes ao caos, apenas esperando a nossa vez de estampar o jornal.

Uma das coisas que mais me irrita é a técnica de anestesia que o Jornalismo utiliza. Mescla notícias pesadas com as “light”, para amenizar, não deixar o noticiário pesado, para que o “Homer Simpson” possa dormir feliz.

Primeiro o seqüestro, logo em seguida o futebol e boa noite.

“Mas sempre qualquer coisa nos ilude, sempre qualquer análise se nos embota, sempre a verdade, ainda que falsa, está além da outra esquina. E é isto que cansa mais que a vida, quando ela cansa, e que o conhecimento e meditação dela, que nunca deixam de cansar.”

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'

1 comentário:

Anónimo disse...

Oi Paulo!!
Estas linkado em nossa página...
Bjus