quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Mais uma lágrima

Márcia tem 10 anos, mora em Maringá, Paraná. Tem a pele parda, fios de cabelos finos e negros, olhos escuros, um sorriso de criança. Seu corpo é magro, fino, uma tábua, como de qualquer guria que ainda desfruta da infância.

Acredita em Deus, junto com seus pais freqüenta uma igreja evangélica, a Assembléia de Deus.

Não era rica, pelo contrário, fazia parte de 90% da população brasileira que não tem acesso a uma série de recursos e confortos de nossa sociedade moderna. Mas não precisava disto para ser feliz.

Era conhecida por ser uma criança alegre, cheia de vitalidade como suas demais colegas, mas tinha como marca registrada sua simplicidade.

Mas em um culto realizado no dia 20, último Sábado, Márcia desapareceu. Houve uma agitação na comunidade cercado por um ar de inconformismo, há uma câmera de segurança na entrada da igreja, mas sem arquivamento das imagens.

Márcia disse a outras crianças que iria buscar um bolo com um “amigo”.

O corpo, encontrado dia 21 em um canavial continha traços de tortura – estrangulamento – e abuso sexual.

Levantaram-se questões quanto à segurança para crianças nas igrejas, se ficam soltas, se há algum controle. A verdade é que nunca houve necessidade de um controle, crianças são crianças e brincavam quando não há atividades específicas. Agora, tivemos o segundo susto.

No primeiro semestre, sofremos também com a morte de uma criança na IASD, onde o assassino, em seu lapso de insanidade, largou o bebê no tanque batismal – a criança morreu afogada, segundo laudo médico que constatou relativa presença de água nos pulmões.

Mas o que mais choca neste acontecimento que passados três dias, oitos suspeitos apontados publicamente são membros da congregação, dentre eles um pastor. Apesar de um outro suspeito ter sido detido, um homem de 34 anos com várias passagens na polícia, uma questão fica no ar. Como confiar na pessoa ao lado numa época onde não se há o respeito, onde um desejo momentâneo vale mais que uma vida!?

É horrível pensar que alguém com quem você convive a certa constância, confia, crê ser de boa índole vá cometer algo tão absurdo como torturar, violentar e assassinar sua filha. E isto não é por ser membro da mesma igreja. Poderia ser um parente, amigo, vizinho.

O que mais assusta é a falta de pudor.

Apenas um impulso foi o suficiente para tirar a vida de uma garota de dez anos, pobre, cheia de alegria e esperança, repleta de fé. Apenas um impulso e embriaguez foram suficientes para adentrar uma igreja ao lado de seu trabalho – uma construção – e assassinar uma criança pequena.

A cada dia cai mais uma lágrima pelas perdas causadas pelas nossas próprias imperfeições morais. Imperfeições que não somos capazes de lidar; que nos agridem levando de uma só vez a pureza e juventude de nossas pequenas garotas.

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