segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Minha presunção

Em um artigo na Folha de São Paulo, Carlos Heitor Cony deixa a fidelidade partidária como algo menor, que não se enquadraria nos modelos políticos brasileiros, tampouco seria solução para a política nacional.

"No Brasil, deve ser mínima a faixa dos que votam num determinado partido. Alguma coisa na base do 0,2% do eleitorado. O resto vota em candidatos".

Realmente, o eleitor pensa votar em um candidato. Porém, pela lei eleitoral, ele vota na coligação. Isto fica evidente quando um candidato recebe um número de votos que é muito maior do que o necessário para se eleger e acaba por levar consigo uma série de outros candidatos da coligação.

Cony também faz uma leitura clara da realidade, "nenhum eleitor pensa nos programas partidários, que uns pelos outros pregam a mesma coisa". Esta cultura não foi desenvolvida no Brasil, o eleitor nem ao menos se preocupa com o plano de governo, vide a última eleição.

Os dois candidatos que foram ao segundo turno das eleições presidenciais só apresentaram seus "planos de governo" vinte dias antes do segundo pleito. O único candidato que possuía um projeto de governo antes do período eleitoral se iniciar era Cristovam Buarque.

Então, meus caros, começa a minha presunção. Para Cony, a fidelidade partidária seria essencial a democracia.

"Com dois partidos apenas, um conservador outro liberal, acredito que os candidatos melhor se arrumariam no tabuleiro e, aí sim, a fidelidade partidária seria indispensável ao funcionamento da democracia".

Discordo de Cony. O Brasil ainda não tem uma história democrática. De real democracia, tivemos dez anos após a ditadura Vargas e mal completamos dezoito anos deste período democrático. Ainda não se desenvolveu uma cultura política no Brasil, é muito cedo para querer que os eleitores sejam conscientes, avaliem os partidos e o sistema político.

Ainda há resquícios da cultura política ditatorial, ainda há cabresto, ainda não nos livramos totalmente do ranço dos coronéis, tampouco consolidamos o sistema democrático composto pela constituinte.

Por mais que a maioria dos partidos seja de corpos vazios, sem ideologia, o Brasil como um todo não o é. Seria terrível se ver preso a temível realidade bipartidária. Consolidar-se-ia a axiologia maniqueísta que foi muito forte nesses primeiros anos de democracia.

Construiu-se uma idéia de oposição entre PT e PSDB. Que os partidos se coloquem em contrariedade, tudo bem, mas me assusta por muito a idéia de que estes poderiam ser os únicos dois partidos a se votar, as únicas alternativas a se escolher.

No primeiro turno da última eleição, tive um consolo de consciência política de poder votar em um candidato que eu tinha certeza que não venceria a eleição, mas que era a melhor opção para o meu país. É assustador só de pensar que as únicas duas opções numa eleição presidencial pudessem ser apenas Lula e Alckmin. O que Carlos Heitor Cony propõe, para mim, não é uma solução para nossa democracia, mas a morte desta.

Não seria um retrocesso político? Voltar às "eleições do cacete"?

Deve-se inserir na cabeça do eleitor o ideal de que não se vota numa marca, num produto publicitário – pois é o que nossos candidatos hoje são – mas em uma idéia, num projeto de país. Só então, os partidos desenvolveram ideologias, reais projetos de país para substituir siglas que não passam de letras escolhidas para facilitar no informa publicitário.

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