domingo, 16 de março de 2008

O circo, o picadeiro e os palhaços

Respeitável público! Senhoras e senhores, bem-vindos ao maior espetáculo da terra! É o maior quórum de palhaços do planeta! Um verdadeiro show!

E cada semana um espetáculo diferente! É precatório, irregularidades em privatizações, sanguessugas, mensalão, ONGs, compra de votos para alterar a constituição. A bola da vez é o cartão.

Neste picadeiro, quem se apresenta não é o autor do espetáculo. Os palhaços, aqui, ficam todos na platéia, sentados, inertes, esperando a próxima capa das revistas semanais, esperando que alguém faça alguma coisa.

Por falar em coisa, que coisa estrondosa esta a do cartão, não? Na fatura, até tapioca consta e quem paga é a nação. Afinal, comprar roupas, alugar carros de luxo e comer uma tapioca – já que ninguém é de ferro – são gastos essenciais para a nação.

Já que somos um circo bem organizado, um circo seguro, um circo sem analfabetismo, um circo que todas as crianças têm acesso a educação de qualidade, um circo sem preconceito, onde o judeu anda de mãos dadas com o árabe, com o japonês e com o negro, num circo onde tudo é paz, usar o cartãozinho aqui, ali ou quem sabe fazer um saque, qual é o problema? É sem maldade, não vai faltar em nenhum outro lugar!

E o que fazer quando são nossos próprios artistas que dizem se o trabalho é direito ou não? Não somos nós que decidimos se é de aplauso ou apupo, a nós resta ficar sentados, anestesiados assistindo a todo espetáculo repetitivo.

Muda apenas o slogan; em si, o cerne do show é o mesmo. É a comédia da vida privada no picadeiro público. Calhou dessa vez de a patacoada ser dos dois grandes lados.

A grande discussão do cartão – que acontece nas instâncias parlamentares – é tão relevante quanto o que seria mais pesado, um quilograma de chumbo ou um quilograma grama de algodão. É o mágico dizendo que o domador gastou duzentos mil em uma Ferrari e o domador dizendo que o mágico gastou duzentos mim em dez Corsas. Sempre fico na dúvida, algodão ou chumbo?

Em um circo que prometeu transparência, vemos gastos sigilosos, assistimos a uma disputa patética de “quem desviou menos”. São dedos apontados uns para os outros, são acusações disformes de quem não tem moral para falar de si mesmo, é o espetáculo da grande ironia dissimulada, da nossa querida tenra hipocrisia.

Mas, apesar dos pesares, o nosso circo segue em frente, cada vez melhor. Nunca antes na história desse picadeiro foram denunciados tantos trapezistas desequilibrados! Nunca antes tantos erros e tantas falhas do espetáculo foram notados! Ainda bem! Sinto-me muito mais seguro ao saber que hoje o nosso grande patrono sabe das coisas que acontecem, já que o anterior escondia por baixo do tapete e, até pouco tempo atrás, o atual sabia de nada e de nada sabia.

Nesse circo é tudo alegria, é tudo festa, é tudo pago no cartão. É quem paga a fatura? Claro que os 180 milhões de palhaços, devidamente sentados estarão também muito felizes com tão belo espetáculo, pagando a entrada e sustentando este picadeiro. O circo quem faz são os palhaços.

Estourou o limite do cartão? É culpa da insaciável vontade de gastar do mágico? Não! A culpa é de quem ostenta o nariz vermelho e está bem acomodado. Quem deu o cartão corporativo pro mágico não foi o elefante, mas sim esses gênios, esses queridos palhaços. Este é o nosso show. Este é do picadeiro o espetáculo!

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