quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Um dia frio.

Hoje o dia não poderia ser feliz, caloroso, alegre, colorido. Eu não costumo me abater rapidamente com as perdas, a ficha demora um pouco para cair, creio que o dia de hoje foi um reflexo disso.

Hoje, em São Paulo, tivemos um frio, mas com um belo céu azul. Apesar do clima não ser favorável ao azul, à tranqüilidade, o vento gélido não afastava a beleza daquele céu límpido e tranqüilo.

Há alguns dias Romário, meu calupcita (é um pássaro), estava doente. Nós olhávamos para ele encolhido na gaiola, e minha avó achava que ele estava encolhido de frio, mas ele já passou por invernos piores sem ter ficado daquele jeito. O bichinho não bebia, não comia, dava dó, nem arrisco estava mais.

Até semana passada, qualquer um que tentava chegar com a mão perto dele levava uma bicada, menos eu, que ele, além de não conseguir bicar, respeitava um pouco.

Só que há alguns dias ele ficava no fundo da gaiola, arrepiava as penas (coisa que os pássaros fazem para se aquecerem, já que o ar é um isolante térmico), e deixava-me passar a mão nele, só levantava a cabeça e bufava irritado.

Eu já sentia que ele não duraria mais tanto tempo, apesar de estar na metade do tempo normal de vida de um calupcita, mas mesmo assim foi triste saber que o passarinho que antes gritava pro prédio inteiro ouvir não estará mais aqui. Que as tardes que a minha vó ligar a máquina de lavar não terá mais o cantor penoso fazendo dueto com a doida da máquina de lavar.

Hoje eu teria mil coisas para dizer, mas Romário merecia uma despedida.

Eu ganhei Romário do meu Tio Gerson após a morte de um canário que eu adorava, o Paulistinha, como eu ainda era pivet, senti muito a falta do canário.

É claro que não dá pra sentir falta de um canário como se sente a falta de um cachorro, mas minha vó apoiava o meu gosto por aves, já que ela detestava a minha vontade de ter cachorros, mas eu era apegado aos pássaros que eu tinha, já que pra uma criança os animais de estimação que tem são amigos.

Bem, Romário chegou à época que o jogador Romário se apresentou no Flamengo. Meu tio, como bom flamenguista, nomeou o coitado com esse nome. Não contestei, afinal, nomeou a criança, o problema é dela e seu.

Romário era um pássaro engraçado. Topete, bico diferente, gritava, fingia que cantava, imitava o assobio do meu avô. Enfim, gostava muito dele.

Sentirei a falta de chegar a minha casa, passar na lavanderia, olhar pra cara dele, assobiar e deixá-lo feliz por uma troca, por uma comunicação sonora.

Descansa em paz Romário, obrigado por ter sido um bom amigo.

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